Bauzera
A Pedra do Baú vem atraindo turistas e favorecendo a prática de esportes de aventura na Serra da Mantiqueira. E foi pensando na segurança e satisfação dos turistas recebidos pela cidade de São Bento do Sapucaí e região, que criamos o grupo de escalada BAUZERA.
Contamos com o apoio do Restaurante Pedra do Baú e Garra Aventura e buscamos novos parceiros para tornar a atividade de turismo de aventura uma pratica segura e saudável.
Oferecemos as seguintes atividades:
1. Ascensão ao cume da Pedra do Baú pela escadinha norte;
2. Trekking ao cume do Bauzinho ou da Ana Chata;
3. Ascensão aos três cumes (Baú, Bauzinho e Ana Chata);
4. Rapel no Baú, Bauzinho e Ana Chata;
5. Escaladas Guiadas: vias tradicionais e clássicas do Baú e região;
6. Curso de escalada em rocha para iniciantes.
Todos os equipamentos utilizados são novos e com certificação internacional UIAA. Os guias são capacitados e praticam escaladas e montanhismo a mais de 10 anos, possuem também curso de primeiros socorros em ambiente agreste e de escalada em varias modalidades. Nossas práticas estão balizadas pelas Competências Mínimas do Condutor e estamos em processo de implantação do Sistema de Gestão de Segurança proposto pela ABETA.
Terceirizamos serviços e esperamos o seu contato para juntos estarmos desenvolvendo o turismo de aventura em São Bento do Sapucaí.
Contamos com o apoio do Restaurante Pedra do Baú e Garra Aventura e buscamos novos parceiros para tornar a atividade de turismo de aventura uma pratica segura e saudável.
Oferecemos as seguintes atividades:
1. Ascensão ao cume da Pedra do Baú pela escadinha norte;
2. Trekking ao cume do Bauzinho ou da Ana Chata;
3. Ascensão aos três cumes (Baú, Bauzinho e Ana Chata);
4. Rapel no Baú, Bauzinho e Ana Chata;
5. Escaladas Guiadas: vias tradicionais e clássicas do Baú e região;
6. Curso de escalada em rocha para iniciantes.
Todos os equipamentos utilizados são novos e com certificação internacional UIAA. Os guias são capacitados e praticam escaladas e montanhismo a mais de 10 anos, possuem também curso de primeiros socorros em ambiente agreste e de escalada em varias modalidades. Nossas práticas estão balizadas pelas Competências Mínimas do Condutor e estamos em processo de implantação do Sistema de Gestão de Segurança proposto pela ABETA.
Terceirizamos serviços e esperamos o seu contato para juntos estarmos desenvolvendo o turismo de aventura em São Bento do Sapucaí.
Arenales
“LOS ARENALES – Betas e otras cositas mas”
Roberto Luís Sponchiado
betoclimb@yahoo.com.br
Para os que estão cansados de tomar chuva no verão em terras brasiliensis e são aficcionados da escalada clássica em terreno de aventura, Los Arenales são a pedida ideal para a viagem de fim de ano. Nesta região o clima é semi-árido de altitude e a temporada mais aprazível, para os “brazucas”, vai de dezembro a março, com temperaturas agradáveis durante o dia (180C) e frio durante a noite (70C). Outra coisa boa, e a melhor, é que viajar para a terra de los hermanos está saindo mais em conta devido a valorização do real frente ao peso.
Los Arenales estão localizados no centro-oeste argentino, a 135Km a sudoeste da cidade de Mendoza, próximo a Tunuyán. Geograficamente falando, Los Arenales são alguns dos vales que drenam a Pré-Cordilheira Andina, na zona do Cordón Portillo, e chegam aos 5553m no Cerro Três Picos. As paredes destes vales são formadas por gigantescas agulhas de um granito muito claro repleto de vias com megadiedros de várias cordadas, fendas que cortam tetos, rampas de aderência fendadas, vias de placa com proteções móveis, etc. Geralmente, as fendas tem arestas abauladas (entalamento de mão e pés obrigatórios) com excelentes colocações móveis.
TEMPORADA 2006/07 – São Paulo / Mendoza / Tunuyán / Los Arenales
Tudo começou assim. Em princípios de 2006, um amigo (Bruno) me emprestou o guia de escalada de Los Arenales. Advinha? Virou livro de cabeceira. Maravilhado com as fotos das vias, programei um treinamento especifico para fendas, escalando todas as vias deste tipo que encontrasse pela frente.
Em meados de dezembro corri atrás do que faltava. Fui completando uma enorme lista de tralhas indispensáveis para a trip, o que incluía, além do básico para acampar em ambientes frios (saco –200C, 2 isolantes, etc), mais todos os meus equipos (nuts, friends, corda, costuras, fitas...). Acabei enchendo uma cargueira de 140L até o talo. Estava muito pesada e não tinha nem comida.
Neste meio tempo, internacionalizei o cartão de débito para sacar dinheiro. O Visa (Brasil) pode ser utilizado na rede Plus (Argentina). O débito é realizado pelo cambio do dia. Troque o dinheiro em Mendoza (R$1,00 equivale a 1,33 pesos), pois o cambio é melhor que na fronteira e que no Brasil (1:1,15). Sempre imprima o comprovante de retirada, vai saber...
Dia 25 de dezembro, após encher o bucho com a ceia de natal, eu, Rodrigo e Adréas, que também estavam carregadíssimos, embarcamos em um bus da empresa Pluma (R$215,00) e fomos direto para Córdoba (36 horas monótonas para atravessar os pampas argentinos). Daí fizemos conexão para Mendoza em um ônibus fuleiro (75,00 pesos e mais 10 horas até avistar a cadeia de montanhas do Cerro Aconcágua). Beleza, chegamos! E demos de frente com o melhor de Mendoza: duas loiras lindas e exóticas, que maravilha! Mas tome cuidado, porque enquanto estiver de boca aberta, suas mochilas podem estar sendo levadas por alguns pilantras que sempre estão por ali, nunca tire o olho dos equipos. O terminal oferece serviços de telefonia, internet, comida e outras coisas peculiares. Procure saber os horários de ônibus para Tunuyan e Manzano Histórico (empresa ECLA: 0261 – 4310508). Direto para Manzano só nos finais de semana.
Do terminal fomos para um albergue (Casa Pueblo) a 3 quadras do terminal. Existem muitos outros, mas este é muito conveniente devido a proximidade do terminal. Tem internet, banho, café da manhã e quarto coletivo (4 e 6 pessoas) por 18,00 pesos (tranque o essencial nos armários). O Clube Andino de Mendoza fica bem próximo (5 quadras). Neste clube compre o guia de escalada (“Escaladas en Mendoza” do Maurício Fernandes - 45,00 pesos), pegue alguns betas e, se quiser se espreguiçar, tem até muro de resina. Pode ser que alguém esteja indo para Los Arenales e te de um help (depende da sorte).
O guia de escalada do Maurício Fernandes (conquistador da maioria as vias) é de boa qualidade material e contém informações essenciais. O grau adotado é o francês e ele qualifica (valorizacíon) as vias utilizando estrelas (de 1 a 5) de acordo com o nível da escalada, qualidade da rocha, estética da linha, beleza natural e orientação (visualização). A vias 5 estrelas são excelentes (faça todas). As de 4 podem ser que tenham algo solto, mas são muito boas. 3 estrelas indicam que a via tem algumas surpresas indesejáveis e/ou a qualidade da proteção é precária. Não entre nas vias de 2 ou 1 estrelas por recomendações médicas.
Depois de um banho rápido, partimos rumo ao centro da cidade comprar comida, equipos e trocar dindin. Pegamos um taxi (6,00 pesos - barato) até a Orviz (loja de equipos) para comprarmos algumas coisas para o frio (também tem o guia). Descemos a mesma avenida e passamos várias outras lojas de equipos, bugingangas, restaurantes e o mercado central. Neste local compramos grãos, frutas secas, barra de cereal, bolachas, queijos, temperos, carne..., tudo a granel. A duas quadras do mercado encontramos casas de cambio e trocamos a grana. Fizemos o resto das compras em um atacadista a uma quadra do albergue. Coisas como salame, queijo, leite, sopas, macarrão, sucos, chocolates e outros, são mais em conta, porém, tem que ser de quantidade (pacotes fechados).
Neste ínterim, chegou mais um compadre brasileño para se juntar ao grupo, o Branco. Ele foi de avião de sampa para Buenos Aires e depois de ônibus até Mendoza. Economizou 2 dias e gastou o dobro. Para quem não dispõe de tempo mas conta com umas economias a mais, é melhor seguir este percurso. Mas não se esqueça que tem limite de carga (30Kg) e minha mochila estava com 35kg! (multa de $100,00 doletas).
Finalmente partimos para Tunuyán, em um ônibus velho e desconfortável, por uma bagatela de 25,00 pesos (empresa ECLA). Depois de 2:30h percorrendo campos de uva, chegamos a Tunuyán e procuramos algum transporte para Los Arenales. O Branco encontrou uma camioneta (F1000 velha e a gás) que nos levaria até o Refúgio Portinari por 80,00 pesos (o mais barato). Subimos na geringonça e, antes de sair, pensando no frio e na passagem de ano que estava próxima, compramos várias garrafas de vinho. A cidade de Mendoza está rodeada de vinícolas e é responsável por uma das maiores produções de vinhos do mundo! É muito barato, quase três vezes menos do que se paga no Brasil.
Para quem vai de carro, a gasolina custa al redor de 2,00 pesos o litro. O acesso para Los Arenales, desde Mendoza, é feito pela rota 40 (para sul – 135Km) até Tunuyán. Deste ponto, a aproximação continua para oeste através da rota 94 (42Km) até o povoado de “El Manzano Histórico” localizado aos pés da cordilheira. Daí continua para oeste por mais 12,5Km em terreno montanhoso (estrada de terra bem conservada que margeia o rio), através do Arroyo Grande, até o Refúgio Portinari, Posto da Gendarmería Nacional.
LOS ARENALES - Refúgio Portinari (2.500m)
Fiquei literalmente de cara quando nos aproximamos do refúgio, dada a quantidade e a altura dos paredões que se erguiam ao nosso redor. Agulhas se projetavam para todos os lados. Tudo era muito grande e belo. Olhamos uns para os outros e só se via sorrisos de alegria. NOSSA! Que lugar insano.
Caí na real quando chegamos no Posto da Gendarmeria Nacional (tipo de polícia federal de fronteira). Neste local é obrigatório a apresentação do documento (RG ou passaporte) para adentrar ao local. Nos registramos e respondemos a algumas perguntas corriqueiras e nos disseram que a área é livre para acampar. Montamos as barracas no platô logo acima do refúgio. Não existe nenhuma infra-estrutura fora o refúgio, e o banheiro pode ser qualquer um dos arbustos que você achar melhor (leve uma pá para enterrar os dejetos e queime o papel!) . Tem um rio que passa próximo. A água é fria e limpa, ideal para beber e gelada demais para banhar-se, necessitando disposição e muito sol para tomar um simples “banho de gato”.
“Mira los condores!” Estes sim, são os reis da área. Com asas que passam os 3m de envergadura, estes monstros alados planam suavemente por entre os picos mais altos. Não se assuste, e considere-se privilegiado quando um destes passar muito próximo te mirando com seus olhos vermelhos. Eles se reproduzem nas encostas das montanhas presentes na entrada do vale (dentro do Arroyo de la Vieja). Os machos possuem uma espécie de colar branco e são menores que as fêmeas.
No primeiro dia de escalada (29/12) escolhemos a Muralha de la Mitria como alvo. É um ótimo local para aclimatação. As vias são de fácil acesso (20´´), baixas (altitude), curtas (desnível), muito próximas umas das outras, de grau relativamente fácil (6a média), geralmente esportivas (E1/E2), com bolts, paradas duplas e coisas do gênero. Tem até marcas de tinta traçadas em antigas competições, delimitando a rota a ser encadeada!
Escalamos vias como tango feroz (6b+), extrema y dura (6c+) e sangre caliente (6c) para calibrar o grau francês. Realmente, vias de placa coincidem com a tabela proposta no guia (6c+:7b). No começo estranhamos a falta de aderência, tinha locais em que parecia que tinha sabão, e sentimos um pouco de falta de ar no crux das vias devido a altitude. No final do dia experimentamos vias mais longas, com utilização de material móvel (condor pasa 5, bengala perdida 5+), só para ver qual é que era. Fácil e de grande beleza, a Muralha da Mitria não apresenta um cume propriamente dito. Como a maioria das outras agulhas, a montanha continua subindo por encostas instáveis e perigosas, com muita rocha solta, por mais umas centenas de metros. Felizes com a visão da barraca lá embaixo, descemos cheios de planos para os dias seguintes.
Nos próximos dois dias escalamos neste setor e fizemos vias muito boas, como: placa de la mitria (6b), mama te quiero (6a), sueños vaginales (6a+), transpirando (6a), amici miei (6a), pacha mama (6a), danza com lobos (6a), intercooler (5), rosso di sera (6a), llantoc (6a+), capitan pólvo (6b+), adelamo (5+), filo del caballito (6a+), samarkanda (6a+), salamandra (6a), salamanka (5), e outras. Escalamos até tarde do dia 31. Descemos, comemos e durmimos antes do ano novo, nos poupando para um “rolezão” transcendental através do Arroyo de la Vieja. “Eta lugarsin bão”. As cachoeiras serpenteiam por entre muralhas verticalizadas de um granito salmão reluzente, com passagens apertadas (portais) por entre agulhas imensas. Tomamos um banho trincando e subimos ao cume para contemplar a imensidão deste paraíso.
Curiosos para saber o que é que tinha no outro vale (Cajon de los Arenales), decidimos escalar a Agulha Nuez (3.150m) pela via mujeres, tequilas e otras yervas (5+). Andamos feito condenados desde o refúgio Portinari até a base desta imensa agulha. Tudo estava desmoronando e o frio pegando. Demoramos para encontrar a via. Quando me dei conta, estava escalando a segunda cordada de tênis e sem estar encordado. Aos poucos me convenci de colocar a sapatilha, e depois de três metros estava jogando a corda para o Brancão e colocando móveis nas fendas. E foi assim até o cume, aonde tivemos a triste notícia de que o rapel seria em proteções muito velhas e oxidadas. Tarde de mais para descobrir que vias de 3 estrelas guardam muitas surpresas indesejáveis, e concluímos que o “trem pega” neste outro lado do vale, é muito mais alpino. Repensamos os projetos e decidimos escalar mais antes de tentarmos algo mais comprometedor por ali.
Com o tempo, o ritmo da escalada começou a fluir. Movimentos de oposição, de ombro, entalamentos em fenda frontal, offwidth, placa de aderência, tensão corporal e equilíbrio foram se aperfeiçoando, e resolvemos ir para a Muralha Principal. Esta imensa parede, de um granito muito claro com faces contínuas e compactas, conta com vias de calibre, geralmente verticalizadas e fendadas. São tipicamente clássicas, todas em móvel (inclusive algumas paradas) e com duas centenas de metros. Era tudo o que queríamos. E de cara fomos para a via los diedros (6a+). Alucinante! Esta foi a ultima via do Branco, que voltou - não querendo voltar - para o Brasil. Depois entramos na Patrícia (6a+), uma via muito estética, uma delícia. Para estas vias é recomendável completar o reck com mais móveis e levar luvas feitas com esparadrapo do bom (utilizamos Metolius). A movimentação torna-se mais exigente, a dificuldade é constante e o entalamento de membros obrigatório. Sentimos que o grau de fenda é mais forte devido ao tipo de escalada (6a:6+ / 6a+:7a / 6b:7b – interpretação própria), já que éramos reles escaladores de placa tipicamente brasileiros.
Todas as agulhas tem uma via que é melhor para rapelar, ou que foi feita para isto. O padrão adotado na região para as paradas é, no mínimo, estranho. De duas chapeletas saem cordins e/ou fitas, geralmente desbotados e ressecados, que são equalisados “toscamente” em uma argola fina. Sempre levávamos fitas e cordinos de abandono para não passar por desventuras. Também tome cuidado com as pedras soltas que a corda traz consigo.
Abaixo do refúgio e no caminho para Mítria existem muitos blocos (boulders) que oferecem muitas possibilidades de movimentos. Experimentei alguns, mas queria mesmo era pedra, muitos mais metros de pedra.
Aclimatação feita, hora do jogo duro. “Simbora pro Campanille!”.
Refúgio Cajon de los Arnales (2.650m)
Este refúgio está a disposição, sem custos. Tá um pouco maltratado, e só é limpo pelas pessoas que freqüentam o local. Possui dois andares, mesas, bancos, ganchos para pendurar as comidas (ratos), muita poeira e alguns trecos estranhos. Montamos as barracas ao lado de uns blocos grandes, muito próximo ao abrigo. O bloco da entrada possui duas vias esportivíssimas para a moçada da pressão (7c+ e 8a?).
Com o intuito de reconhecer melhor o enigmático grupo Campanille Alto, fui para a agulha Campanille (3.400m) escalar a via armonica (6a+) junto com o Evandro, escalador de Floripa. A aproximação foi uma provação de força e paciência. A cada passo dado, ou afundava o pé numa cascalheira sem fim, ou o chão literalmente rolava encosta abaixo, arrastando várias blocos (cuidado!). Os bastões de caminhada foram tudo de bom nesta trilha. Me adiantei para que as pedras não tornassem um infortúnio para o parceiro. Depois de duas horas para transpor os mais de 350m de desnível, chegamos na base. Neste setor descobri o verdadeiro significado da frase: escalada clássica em terreno de aventura. As vias são longas, aéreas e totalmente em móvel. O ar está mais rarefeito e é bom ter faro para escalada (visualização), devido ao grande ambiente formado pelo infindável numero de fendas, diedros e arestas. Neste setor é possível deixar os equipos debaixo de grandes blocos amontoados nas bases das agulhas, facilitando muito a descida e a subida, necessitando apenas levar água e comida.
Nos outros dias escalei as vias sangre de eden (5+) e cuyanita (6a+), e as exóticas agulhas Astilla (suiço latino, 6a), Espina (mundo interior, 6c; la matuasta, 6b+) e Torrecilla (universo mental, 6b). Foi aí que começou a saga das escaladas com coração. Deu um clique e passei atropelando os 6b´s. A hora de romper os paradigmas havia chegado. Deixamos os equipos na base da mais alta de todas, a impressionante agulha Charles Webis (3.450m). Esta é a melhor agulha para se escalar fendas frontais que já avia visto. A rocha é extremamente bela e compacta, com fendas retilíneas que saem do chão e vão rasgando até o cume (200m). De mansinho, fomos conhecer a via de rapel: fuga de cabras (6b). Adoramos! Pedimos licença e entramos nas vias: panqueques com dulce de leche (6b), ya te guaverigua (6b), souvenir invernal (6b), turuleca (6b+), escorpión (6b+). Infelizmente, e depois de tentar todas as vias em livre, não chegamos ao cume devido ao mau tempo, com direito a tempestade de neve e trovoadas durante a empreitada. Era só passar o lance de 6b que São Pedro apertava o botão e, CABUM, raios, chuva e neve na cabeça. Aborrecidos, resolvemos mudar de objetivo.
Descemos os equipos para o refúgio e, junto com um amigo de longa data (Pedro), fomos relaxar na charmosa agulha Carlos Daniel (3.100m). Entramos na clássica é fácil via Carlos Daniel (6a). Via de grande beleza, muito visual. Uma ótima escolha para aclimatar na parte alta de Los Arenales. Também fiz umas vias esportivas em fissuras com uns amigos chilenos na base da agulha, que se mostraram muito interessantes para um dia de descanso para as pernas (deditos finos, 6c; petit diedraux, 7a; kamikase, 6b+; the flake 6a+).
O último e maior objetivo era escalar a agulha El Cohete (3.300m) pela via mejor no hablar de ciertas cosas (6b). Acordamos cedinho (6:00h) e fazia um frio cortante. Fizemos em simultâneo as 6 primeiras cordadas, num total de 13. No começo não parece uma via de 5 estrelas, muita rocha solta (craquenta), mas quando se chega na base da oitava cordada, tudo muda: a parede verticaliza; acabam as pedras soltas; e as fendas cortam toda uma aresta de grandes dimensões. Preste atenção no rapel, a descida, em certos pontos, se faz por outro caminho, veja no guia.
Como todo homem que se preze vai para a montanha, fiz um Treking para o passo que dá acesso ao Chile para meditar, contemplar e aclimatar é claro. O caminho transcorre pelo vale principal e sobe até os 4.500m. Parte dele pode ser feito por carro, mas fui a pé e curti um montão. Existem outras trilhas técnicas em Los Arenales. O guia possui algumas informações úteis, mas fale com os gendarmes e/ou pessoas que estiverem por lá sobre as condições físicas e climáticas do percurso escolhido.
Uma figura impossível de não conhecer e dar boas risadas é o Yagar. Morador de Manzano, todos o conhecem, é só perguntar por ele. Ele faz o translado desde Manzano e pode arrumar comida para quem não tem carro, o que foi nosso caso. Faz assados típicos da região no refúgio e sua mulher prepara doces de banana e queijos deliciosos.
No final das contas fiquei acampado por 47 dias e escalei 99% das vias a vista e sacando moveis. De todas as vias só não tinha encadeado duas. As vias de 6b estavam na promoção, escalava comentando os entalamentos e colocações didáticas que encontrava. As de 6b+ eram uma luta prazerosa e silenciosa. E as de 6c testavam intensamente a criatividade. O sétimo grau era apenas um pensamento longínquo.
Comemoramos o final da aventura com um assado de cabrito (chivito) preparado por uns amigos argentinos. Tomamos cervejas geladas no rio e muito vinho. Neste momento vi que era hora de mudar. Segui para o Frei em busca das fendas perfeitas.
Roberto Luís Sponchiado
betoclimb@yahoo.com.br
Para os que estão cansados de tomar chuva no verão em terras brasiliensis e são aficcionados da escalada clássica em terreno de aventura, Los Arenales são a pedida ideal para a viagem de fim de ano. Nesta região o clima é semi-árido de altitude e a temporada mais aprazível, para os “brazucas”, vai de dezembro a março, com temperaturas agradáveis durante o dia (180C) e frio durante a noite (70C). Outra coisa boa, e a melhor, é que viajar para a terra de los hermanos está saindo mais em conta devido a valorização do real frente ao peso.
Los Arenales estão localizados no centro-oeste argentino, a 135Km a sudoeste da cidade de Mendoza, próximo a Tunuyán. Geograficamente falando, Los Arenales são alguns dos vales que drenam a Pré-Cordilheira Andina, na zona do Cordón Portillo, e chegam aos 5553m no Cerro Três Picos. As paredes destes vales são formadas por gigantescas agulhas de um granito muito claro repleto de vias com megadiedros de várias cordadas, fendas que cortam tetos, rampas de aderência fendadas, vias de placa com proteções móveis, etc. Geralmente, as fendas tem arestas abauladas (entalamento de mão e pés obrigatórios) com excelentes colocações móveis.
TEMPORADA 2006/07 – São Paulo / Mendoza / Tunuyán / Los Arenales
Tudo começou assim. Em princípios de 2006, um amigo (Bruno) me emprestou o guia de escalada de Los Arenales. Advinha? Virou livro de cabeceira. Maravilhado com as fotos das vias, programei um treinamento especifico para fendas, escalando todas as vias deste tipo que encontrasse pela frente.
Em meados de dezembro corri atrás do que faltava. Fui completando uma enorme lista de tralhas indispensáveis para a trip, o que incluía, além do básico para acampar em ambientes frios (saco –200C, 2 isolantes, etc), mais todos os meus equipos (nuts, friends, corda, costuras, fitas...). Acabei enchendo uma cargueira de 140L até o talo. Estava muito pesada e não tinha nem comida.
Neste meio tempo, internacionalizei o cartão de débito para sacar dinheiro. O Visa (Brasil) pode ser utilizado na rede Plus (Argentina). O débito é realizado pelo cambio do dia. Troque o dinheiro em Mendoza (R$1,00 equivale a 1,33 pesos), pois o cambio é melhor que na fronteira e que no Brasil (1:1,15). Sempre imprima o comprovante de retirada, vai saber...
Dia 25 de dezembro, após encher o bucho com a ceia de natal, eu, Rodrigo e Adréas, que também estavam carregadíssimos, embarcamos em um bus da empresa Pluma (R$215,00) e fomos direto para Córdoba (36 horas monótonas para atravessar os pampas argentinos). Daí fizemos conexão para Mendoza em um ônibus fuleiro (75,00 pesos e mais 10 horas até avistar a cadeia de montanhas do Cerro Aconcágua). Beleza, chegamos! E demos de frente com o melhor de Mendoza: duas loiras lindas e exóticas, que maravilha! Mas tome cuidado, porque enquanto estiver de boca aberta, suas mochilas podem estar sendo levadas por alguns pilantras que sempre estão por ali, nunca tire o olho dos equipos. O terminal oferece serviços de telefonia, internet, comida e outras coisas peculiares. Procure saber os horários de ônibus para Tunuyan e Manzano Histórico (empresa ECLA: 0261 – 4310508). Direto para Manzano só nos finais de semana.
Do terminal fomos para um albergue (Casa Pueblo) a 3 quadras do terminal. Existem muitos outros, mas este é muito conveniente devido a proximidade do terminal. Tem internet, banho, café da manhã e quarto coletivo (4 e 6 pessoas) por 18,00 pesos (tranque o essencial nos armários). O Clube Andino de Mendoza fica bem próximo (5 quadras). Neste clube compre o guia de escalada (“Escaladas en Mendoza” do Maurício Fernandes - 45,00 pesos), pegue alguns betas e, se quiser se espreguiçar, tem até muro de resina. Pode ser que alguém esteja indo para Los Arenales e te de um help (depende da sorte).
O guia de escalada do Maurício Fernandes (conquistador da maioria as vias) é de boa qualidade material e contém informações essenciais. O grau adotado é o francês e ele qualifica (valorizacíon) as vias utilizando estrelas (de 1 a 5) de acordo com o nível da escalada, qualidade da rocha, estética da linha, beleza natural e orientação (visualização). A vias 5 estrelas são excelentes (faça todas). As de 4 podem ser que tenham algo solto, mas são muito boas. 3 estrelas indicam que a via tem algumas surpresas indesejáveis e/ou a qualidade da proteção é precária. Não entre nas vias de 2 ou 1 estrelas por recomendações médicas.
Depois de um banho rápido, partimos rumo ao centro da cidade comprar comida, equipos e trocar dindin. Pegamos um taxi (6,00 pesos - barato) até a Orviz (loja de equipos) para comprarmos algumas coisas para o frio (também tem o guia). Descemos a mesma avenida e passamos várias outras lojas de equipos, bugingangas, restaurantes e o mercado central. Neste local compramos grãos, frutas secas, barra de cereal, bolachas, queijos, temperos, carne..., tudo a granel. A duas quadras do mercado encontramos casas de cambio e trocamos a grana. Fizemos o resto das compras em um atacadista a uma quadra do albergue. Coisas como salame, queijo, leite, sopas, macarrão, sucos, chocolates e outros, são mais em conta, porém, tem que ser de quantidade (pacotes fechados).
Neste ínterim, chegou mais um compadre brasileño para se juntar ao grupo, o Branco. Ele foi de avião de sampa para Buenos Aires e depois de ônibus até Mendoza. Economizou 2 dias e gastou o dobro. Para quem não dispõe de tempo mas conta com umas economias a mais, é melhor seguir este percurso. Mas não se esqueça que tem limite de carga (30Kg) e minha mochila estava com 35kg! (multa de $100,00 doletas).
Finalmente partimos para Tunuyán, em um ônibus velho e desconfortável, por uma bagatela de 25,00 pesos (empresa ECLA). Depois de 2:30h percorrendo campos de uva, chegamos a Tunuyán e procuramos algum transporte para Los Arenales. O Branco encontrou uma camioneta (F1000 velha e a gás) que nos levaria até o Refúgio Portinari por 80,00 pesos (o mais barato). Subimos na geringonça e, antes de sair, pensando no frio e na passagem de ano que estava próxima, compramos várias garrafas de vinho. A cidade de Mendoza está rodeada de vinícolas e é responsável por uma das maiores produções de vinhos do mundo! É muito barato, quase três vezes menos do que se paga no Brasil.
Para quem vai de carro, a gasolina custa al redor de 2,00 pesos o litro. O acesso para Los Arenales, desde Mendoza, é feito pela rota 40 (para sul – 135Km) até Tunuyán. Deste ponto, a aproximação continua para oeste através da rota 94 (42Km) até o povoado de “El Manzano Histórico” localizado aos pés da cordilheira. Daí continua para oeste por mais 12,5Km em terreno montanhoso (estrada de terra bem conservada que margeia o rio), através do Arroyo Grande, até o Refúgio Portinari, Posto da Gendarmería Nacional.
LOS ARENALES - Refúgio Portinari (2.500m)
Fiquei literalmente de cara quando nos aproximamos do refúgio, dada a quantidade e a altura dos paredões que se erguiam ao nosso redor. Agulhas se projetavam para todos os lados. Tudo era muito grande e belo. Olhamos uns para os outros e só se via sorrisos de alegria. NOSSA! Que lugar insano.
Caí na real quando chegamos no Posto da Gendarmeria Nacional (tipo de polícia federal de fronteira). Neste local é obrigatório a apresentação do documento (RG ou passaporte) para adentrar ao local. Nos registramos e respondemos a algumas perguntas corriqueiras e nos disseram que a área é livre para acampar. Montamos as barracas no platô logo acima do refúgio. Não existe nenhuma infra-estrutura fora o refúgio, e o banheiro pode ser qualquer um dos arbustos que você achar melhor (leve uma pá para enterrar os dejetos e queime o papel!) . Tem um rio que passa próximo. A água é fria e limpa, ideal para beber e gelada demais para banhar-se, necessitando disposição e muito sol para tomar um simples “banho de gato”.
“Mira los condores!” Estes sim, são os reis da área. Com asas que passam os 3m de envergadura, estes monstros alados planam suavemente por entre os picos mais altos. Não se assuste, e considere-se privilegiado quando um destes passar muito próximo te mirando com seus olhos vermelhos. Eles se reproduzem nas encostas das montanhas presentes na entrada do vale (dentro do Arroyo de la Vieja). Os machos possuem uma espécie de colar branco e são menores que as fêmeas.
No primeiro dia de escalada (29/12) escolhemos a Muralha de la Mitria como alvo. É um ótimo local para aclimatação. As vias são de fácil acesso (20´´), baixas (altitude), curtas (desnível), muito próximas umas das outras, de grau relativamente fácil (6a média), geralmente esportivas (E1/E2), com bolts, paradas duplas e coisas do gênero. Tem até marcas de tinta traçadas em antigas competições, delimitando a rota a ser encadeada!
Escalamos vias como tango feroz (6b+), extrema y dura (6c+) e sangre caliente (6c) para calibrar o grau francês. Realmente, vias de placa coincidem com a tabela proposta no guia (6c+:7b). No começo estranhamos a falta de aderência, tinha locais em que parecia que tinha sabão, e sentimos um pouco de falta de ar no crux das vias devido a altitude. No final do dia experimentamos vias mais longas, com utilização de material móvel (condor pasa 5, bengala perdida 5+), só para ver qual é que era. Fácil e de grande beleza, a Muralha da Mitria não apresenta um cume propriamente dito. Como a maioria das outras agulhas, a montanha continua subindo por encostas instáveis e perigosas, com muita rocha solta, por mais umas centenas de metros. Felizes com a visão da barraca lá embaixo, descemos cheios de planos para os dias seguintes.
Nos próximos dois dias escalamos neste setor e fizemos vias muito boas, como: placa de la mitria (6b), mama te quiero (6a), sueños vaginales (6a+), transpirando (6a), amici miei (6a), pacha mama (6a), danza com lobos (6a), intercooler (5), rosso di sera (6a), llantoc (6a+), capitan pólvo (6b+), adelamo (5+), filo del caballito (6a+), samarkanda (6a+), salamandra (6a), salamanka (5), e outras. Escalamos até tarde do dia 31. Descemos, comemos e durmimos antes do ano novo, nos poupando para um “rolezão” transcendental através do Arroyo de la Vieja. “Eta lugarsin bão”. As cachoeiras serpenteiam por entre muralhas verticalizadas de um granito salmão reluzente, com passagens apertadas (portais) por entre agulhas imensas. Tomamos um banho trincando e subimos ao cume para contemplar a imensidão deste paraíso.
Curiosos para saber o que é que tinha no outro vale (Cajon de los Arenales), decidimos escalar a Agulha Nuez (3.150m) pela via mujeres, tequilas e otras yervas (5+). Andamos feito condenados desde o refúgio Portinari até a base desta imensa agulha. Tudo estava desmoronando e o frio pegando. Demoramos para encontrar a via. Quando me dei conta, estava escalando a segunda cordada de tênis e sem estar encordado. Aos poucos me convenci de colocar a sapatilha, e depois de três metros estava jogando a corda para o Brancão e colocando móveis nas fendas. E foi assim até o cume, aonde tivemos a triste notícia de que o rapel seria em proteções muito velhas e oxidadas. Tarde de mais para descobrir que vias de 3 estrelas guardam muitas surpresas indesejáveis, e concluímos que o “trem pega” neste outro lado do vale, é muito mais alpino. Repensamos os projetos e decidimos escalar mais antes de tentarmos algo mais comprometedor por ali.
Com o tempo, o ritmo da escalada começou a fluir. Movimentos de oposição, de ombro, entalamentos em fenda frontal, offwidth, placa de aderência, tensão corporal e equilíbrio foram se aperfeiçoando, e resolvemos ir para a Muralha Principal. Esta imensa parede, de um granito muito claro com faces contínuas e compactas, conta com vias de calibre, geralmente verticalizadas e fendadas. São tipicamente clássicas, todas em móvel (inclusive algumas paradas) e com duas centenas de metros. Era tudo o que queríamos. E de cara fomos para a via los diedros (6a+). Alucinante! Esta foi a ultima via do Branco, que voltou - não querendo voltar - para o Brasil. Depois entramos na Patrícia (6a+), uma via muito estética, uma delícia. Para estas vias é recomendável completar o reck com mais móveis e levar luvas feitas com esparadrapo do bom (utilizamos Metolius). A movimentação torna-se mais exigente, a dificuldade é constante e o entalamento de membros obrigatório. Sentimos que o grau de fenda é mais forte devido ao tipo de escalada (6a:6+ / 6a+:7a / 6b:7b – interpretação própria), já que éramos reles escaladores de placa tipicamente brasileiros.
Todas as agulhas tem uma via que é melhor para rapelar, ou que foi feita para isto. O padrão adotado na região para as paradas é, no mínimo, estranho. De duas chapeletas saem cordins e/ou fitas, geralmente desbotados e ressecados, que são equalisados “toscamente” em uma argola fina. Sempre levávamos fitas e cordinos de abandono para não passar por desventuras. Também tome cuidado com as pedras soltas que a corda traz consigo.
Abaixo do refúgio e no caminho para Mítria existem muitos blocos (boulders) que oferecem muitas possibilidades de movimentos. Experimentei alguns, mas queria mesmo era pedra, muitos mais metros de pedra.
Aclimatação feita, hora do jogo duro. “Simbora pro Campanille!”.
Refúgio Cajon de los Arnales (2.650m)
Este refúgio está a disposição, sem custos. Tá um pouco maltratado, e só é limpo pelas pessoas que freqüentam o local. Possui dois andares, mesas, bancos, ganchos para pendurar as comidas (ratos), muita poeira e alguns trecos estranhos. Montamos as barracas ao lado de uns blocos grandes, muito próximo ao abrigo. O bloco da entrada possui duas vias esportivíssimas para a moçada da pressão (7c+ e 8a?).
Com o intuito de reconhecer melhor o enigmático grupo Campanille Alto, fui para a agulha Campanille (3.400m) escalar a via armonica (6a+) junto com o Evandro, escalador de Floripa. A aproximação foi uma provação de força e paciência. A cada passo dado, ou afundava o pé numa cascalheira sem fim, ou o chão literalmente rolava encosta abaixo, arrastando várias blocos (cuidado!). Os bastões de caminhada foram tudo de bom nesta trilha. Me adiantei para que as pedras não tornassem um infortúnio para o parceiro. Depois de duas horas para transpor os mais de 350m de desnível, chegamos na base. Neste setor descobri o verdadeiro significado da frase: escalada clássica em terreno de aventura. As vias são longas, aéreas e totalmente em móvel. O ar está mais rarefeito e é bom ter faro para escalada (visualização), devido ao grande ambiente formado pelo infindável numero de fendas, diedros e arestas. Neste setor é possível deixar os equipos debaixo de grandes blocos amontoados nas bases das agulhas, facilitando muito a descida e a subida, necessitando apenas levar água e comida.
Nos outros dias escalei as vias sangre de eden (5+) e cuyanita (6a+), e as exóticas agulhas Astilla (suiço latino, 6a), Espina (mundo interior, 6c; la matuasta, 6b+) e Torrecilla (universo mental, 6b). Foi aí que começou a saga das escaladas com coração. Deu um clique e passei atropelando os 6b´s. A hora de romper os paradigmas havia chegado. Deixamos os equipos na base da mais alta de todas, a impressionante agulha Charles Webis (3.450m). Esta é a melhor agulha para se escalar fendas frontais que já avia visto. A rocha é extremamente bela e compacta, com fendas retilíneas que saem do chão e vão rasgando até o cume (200m). De mansinho, fomos conhecer a via de rapel: fuga de cabras (6b). Adoramos! Pedimos licença e entramos nas vias: panqueques com dulce de leche (6b), ya te guaverigua (6b), souvenir invernal (6b), turuleca (6b+), escorpión (6b+). Infelizmente, e depois de tentar todas as vias em livre, não chegamos ao cume devido ao mau tempo, com direito a tempestade de neve e trovoadas durante a empreitada. Era só passar o lance de 6b que São Pedro apertava o botão e, CABUM, raios, chuva e neve na cabeça. Aborrecidos, resolvemos mudar de objetivo.
Descemos os equipos para o refúgio e, junto com um amigo de longa data (Pedro), fomos relaxar na charmosa agulha Carlos Daniel (3.100m). Entramos na clássica é fácil via Carlos Daniel (6a). Via de grande beleza, muito visual. Uma ótima escolha para aclimatar na parte alta de Los Arenales. Também fiz umas vias esportivas em fissuras com uns amigos chilenos na base da agulha, que se mostraram muito interessantes para um dia de descanso para as pernas (deditos finos, 6c; petit diedraux, 7a; kamikase, 6b+; the flake 6a+).
O último e maior objetivo era escalar a agulha El Cohete (3.300m) pela via mejor no hablar de ciertas cosas (6b). Acordamos cedinho (6:00h) e fazia um frio cortante. Fizemos em simultâneo as 6 primeiras cordadas, num total de 13. No começo não parece uma via de 5 estrelas, muita rocha solta (craquenta), mas quando se chega na base da oitava cordada, tudo muda: a parede verticaliza; acabam as pedras soltas; e as fendas cortam toda uma aresta de grandes dimensões. Preste atenção no rapel, a descida, em certos pontos, se faz por outro caminho, veja no guia.
Como todo homem que se preze vai para a montanha, fiz um Treking para o passo que dá acesso ao Chile para meditar, contemplar e aclimatar é claro. O caminho transcorre pelo vale principal e sobe até os 4.500m. Parte dele pode ser feito por carro, mas fui a pé e curti um montão. Existem outras trilhas técnicas em Los Arenales. O guia possui algumas informações úteis, mas fale com os gendarmes e/ou pessoas que estiverem por lá sobre as condições físicas e climáticas do percurso escolhido.
Uma figura impossível de não conhecer e dar boas risadas é o Yagar. Morador de Manzano, todos o conhecem, é só perguntar por ele. Ele faz o translado desde Manzano e pode arrumar comida para quem não tem carro, o que foi nosso caso. Faz assados típicos da região no refúgio e sua mulher prepara doces de banana e queijos deliciosos.
No final das contas fiquei acampado por 47 dias e escalei 99% das vias a vista e sacando moveis. De todas as vias só não tinha encadeado duas. As vias de 6b estavam na promoção, escalava comentando os entalamentos e colocações didáticas que encontrava. As de 6b+ eram uma luta prazerosa e silenciosa. E as de 6c testavam intensamente a criatividade. O sétimo grau era apenas um pensamento longínquo.
Comemoramos o final da aventura com um assado de cabrito (chivito) preparado por uns amigos argentinos. Tomamos cervejas geladas no rio e muito vinho. Neste momento vi que era hora de mudar. Segui para o Frei em busca das fendas perfeitas.
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